Já vi seus olhos ardendo, já vi seus olhos chorando, já vi seus olhos sorrindo, já vi seus olhos amando, já vi seus olhos gelados, silenciosamente frios e tive medo... A luz que seus olhos emitem cega, ilumina todos os caminhos, seu fogo incendeia, purifica, exalta, mas o frio corta, navalha que desce cega pela coluna e dobra minha espinha num medo mudo que se traduz em lhe perdi!
Vi muitas vezes seus olhos brincalhões, menino travesso a
roubar goiabas do vizinho, jogando bola pelo muro do quintal, roubando um beijo
durante o recreio. Vi seus olhos alagados, em enchentes desmoronados, pai
aflito, filho impotente, mas vi seus olhos gelados como navalhas afiadas
cortando calados um silencio repleto de palavras...
E lhe toquei sem lhe sentir, distante, desconexo, olhar
vagante por paisagens que não pude acompanhar mesmo que sua boca estivesse
colada a minha, mesmo que seu braço prendesse o meu! Senti seu corpo rijo,
alerta e quando olhei seus olhos, eram sérios, não estavam ali!
Os meus, bem, os meus
caíram no vazio e lavaram-se de saudades enquanto lembraram dos seus olhos
ardentes, sorridentes, amantes, mas se calaram quando lembraram dos seus olhos
gelados, parados, ali no pátio do Fórum, olhos de Juiz de execução criminal,
olhos de gelo contidos num tudo bem...E depois disso, todos os dias, meus olhos
querem ver novamente os seus, querem ver olhos sorrido, cobiçando, olhos de
desejo, sem pejo, sem medo, olhos felizes de menino travesso, de homem
satisfeito, olhos ardentes como aqueles que tenho gravados na mente!
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