sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Seus Olhos



Já vi seus olhos ardendo, já vi seus olhos chorando, já vi seus olhos sorrindo, já vi seus olhos amando, já vi seus olhos gelados, silenciosamente frios e tive medo... A luz que seus olhos emitem cega, ilumina todos os caminhos, seu fogo incendeia, purifica, exalta, mas o frio corta, navalha que desce cega pela coluna e dobra minha espinha num medo mudo que se traduz em lhe perdi!

Vi muitas vezes seus olhos brincalhões, menino travesso a roubar goiabas do vizinho, jogando bola pelo muro do quintal, roubando um beijo durante o recreio. Vi seus olhos alagados, em enchentes desmoronados, pai aflito, filho impotente, mas vi seus olhos gelados como navalhas afiadas cortando calados um silencio repleto de palavras...

E lhe toquei sem lhe sentir, distante, desconexo, olhar vagante por paisagens que não pude acompanhar mesmo que sua boca estivesse colada a minha, mesmo que seu braço prendesse o meu! Senti seu corpo rijo, alerta e quando olhei seus olhos, eram sérios, não estavam ali!

Os meus, bem,  os meus caíram no vazio e lavaram-se de saudades enquanto lembraram dos seus olhos ardentes, sorridentes, amantes, mas se calaram quando lembraram dos seus olhos gelados, parados, ali no pátio do Fórum, olhos de Juiz de execução criminal, olhos de gelo contidos num tudo bem...E depois disso, todos os dias, meus olhos querem ver novamente os seus, querem ver olhos sorrido, cobiçando, olhos de desejo, sem pejo, sem medo, olhos felizes de menino travesso, de homem satisfeito, olhos ardentes como aqueles que tenho gravados na mente!

sábado, 7 de julho de 2012

Saudades ao fim da tarde

Há dias como o de hoje, quando os antigos medos voltam a me visitar. Não mais me violentam, agridem, pegam pelo pescoço e torturam até as lagrimas... Não, mudaram de tática, chegam silenciosos, mansamente se instalam na janela, puxam conversa e no meio do nada apenas dizem: eu falei que isso iria acontecer, não falei?  Domingos ás quintas, Natais em novembro e ano novo em Setembro... E meus olhos rebeldes se recusam a marejar!

Sim, eles me avisaram, mas decidi resoluta arriscar a não ter direito de ver o sol escorrer mansamente na tua companhia, abri mão de passear a céu aberto, sorrir despreocupada, chamar teu nome no meio da noite, olhar a água matizada pelos reflexos da lua...

Algumas escolhas são leoninas: não há escolha, pois qualquer que seja a opção feita o que se perde é muito e o que explode dentro do peito é tão mais forte que arrebenta qualquer outra convicção, qualquer outro sentir, mover, pensar...

Foi assim comigo. A qualquer argumento contrário , meu coração, cansado de uma longa procura, só repetia, parodiando o poeta:” Eu sei quem és pra mim. Haja, o que houver espero por ti...” E assim, ainda agora, quando todos esses fantasmas voltam, quando o sol desce no horizonte e desejo que estejas aqui, comigo; quando percebo seu cheiro nos lençóis, na minha pele e por toda casa, como um carimbo poderoso que desperta tantas saudades, que insufla a vontade de te ter comigo, quando tantas e tantas imagens teimam em subir-me aos olhos na afirmativa do quão absurda é esse sentir, toco um fado e repito lentamente:

Haja o que houver
Eu estou aqui
Haja o que houver
espero por ti

( pois )

Eu sei quem és
pra mim
Haja, o que houver
espero por ti...
Ó paixão
Nem a manhã
Apaga a luz que tem a chama do teu belo olhar
Neste silêncio em que eu aprendi
A ficar bem junto a ti
Neste silêncio que descobri
Quando estou bem junto a ti

terça-feira, 19 de junho de 2012

Devaneios

Sua lembrança me invade forte, presente como só você sabe ser. Seu rosto, seu cheiro, seu toque, sucedem-se ao meu redor e toda sua presença já paira no ar fazendo nascer uma saudade que arrebenta todas as comportas e me transporta a momentos, recordações queridas, contas de guardar lembranças que me ajudam a atravessar os dias, as horas em que não lhe vejo.
Olho as pessoas e a comparação é inevitável: nada, ninguém se parece com você... Não encontro seu porte, sua elegância, sua voz, seu cheiro, tudo único, tudo elaborado com exclusividade para compor  sua figura distinta, maravilhosamente magnífica que tanto e sempre encantou meus olhos e hoje encanta meu ser inteiro!
Num quase delírio, onde realidade e sonho se misturam numa mescla de saudade e desejo, de carinho e atração, num affair que envolve mais que pele, nervos e sensações, vou relembrando a delicia da entrega, o suave e irresistível arrebatamento que é estar entre as portas seguras dos seus braços, abraços de ternura impar, a convocar-me para a vida que corre célere nos portões lá fora...
Aqui dentro, tudo é silencio e paz e o tempo pára para contemplar sua beleza, pára para admirar-se de minha admiração diante da magnitude da sua presença que preenche, de uma só vez, todos os espaços físicos e emocionais ao nosso redor.
Tudo cala, tudo pára, tudo se verga ao seu comando suave e firme, ao seu carinho experiente, ao seu corpo eloqüente no toque que jamais admite silencio como resposta. Todo o meu ser, a uma só voz, deseja sentir você: então, são meus ouvidos que clamam por sua voz e minha pela se arrepia prevendo seu toque, meu coração dispara antevendo seu gosto, sentindo seu cheiro, lembrando das formas perfeitas que se encaixam com desenvoltura e sensibilidade fazendo de mim um inteiro e não mais metade.
Cavalo e cavaleiro tornam-se uma só peça, um só corpo a deslizar em sincronia perfeita pela pista que leva ao prazer. As imagens desfilam vertiginosas: entregar o comando é um prazer inenarrável, uma aventura inimaginável para quem sempre manteve o manche entre as mãos.
Deslizo como um pequeno barco conduzido por navegador experiente e me sinto inteira nessa entrega suave, pequena e protegida, criança que olha a paisagem admirada de tantas novidades.
Onde você esteve durante todo esse tempo?
Porque não me veio acordar antes desse sono profundo? Enquanto eu dormia, a vida corria, a paisagem mudava e eu, cinderela da vida real, adormecida esperava quem me trouxesse a vida, sem jamais acreditar que isso seria possível a alguém!


terça-feira, 13 de março de 2012

Qual a melhor roupa para uma mulher?

Atravessa as paginas do conto
A saudade de um dia de verão
Alguns verão que conto  e aumento um ponto
Aumento, mas não invento a emoção
Que a palavra não esconda o que é memória
E ali se encontre a delicia de uma história...
(Lewis Carrol – Alice no País dos espelhos)






            Li na publicação de um amigo que a mais elegante roupa que uma mulher pode vestir é o abraço do homem amado! A frase causou-me grande impacto embora não a tenha compreendido completamente no momento que li.
            Ontem, meus olhos, vagabundeando a esmo, pousaram no cabide vazio que dormia indolente e esquecido no puxador do armário. Imediatamente a mente vestiu-o de camisa social, calças cinza de corte impecável e meu corpo exudou um aroma deliciosamente conhecido.
            Num átimo, sua estrutura  larga e quente era o divã sobre o qual me apoiava, enquanto dedos ágeis me precorriam provocando frisson em minha pele. Deixei-me conduzir, dócil, pelos comandos murmurados ao meu ouvido, ä plenitude dos nossos desejos, ao êxtase de nossa busca sempre tão plena de ternura.
            O vento fresco da noite perdeu-se em contato com a tepidez da sua pele e os aromas de jasmim, que insistiam em entrar pela janela, retiraram-se discretos diante do perfume absolutamente inebriante do seu corpo... Naquele momento nada mais havia a não ser nós dois, ninguém mais existia que não fosse você: entre todas as estrelas, a mais brilhante, o sol refulgente que me tinge as retinas...
            Um sorriso terno pousou sobre meus lábios e qualquer observador mais atento teria lido seu nome nas entrelinhas desse sorriso, no brilho que certamente me cravejou os olhos, no cheiro que emanou de mim, mas ninguém viu o espetáculo de minha contemplação senão o cabide ocioso que fôra a testemunha de tão precioso acontecimento. Ele, apenas eu e ele, o cabide, escutamos seu sorriso quase infantil, percebemos seu constrangimento adolescente, observamos sua beleza máscula. Apenas nós dois ficamos absortos pela perfeição do seu talhe, a elegância de suas roupas, a finura dos seus modos, o carinho do seu toque!
            Então, finalmente, entendi a citação do meu amigo poeta: Não há roupa mais elegante em uma mulher que o abraço do homem amado!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Imagens

Gostaria de ter o dom da pintura para melhor expressar a beleza que guardo registrada em minhas recordações. Palavras são palhetas pobres para descrever sua beleza e tudo que em mim produz, como se um turbilhão de cores me invadisse  em forma de emoções .

Ergo os olhos e contemplo sua cabeça reclinada sobre minhas espáduas. Digno de Monet, caber-lhe-ia o nome de suave descanso ou doce arrepio, pois é o que sinto quando seu rosto toca minha nuca com a branda firmeza de quem sabe o quer e como conseguir.

Semicerro os olhos para apreender o espetáculo de suas mãos que, ladeando minha cabeça, equilibram com graça o peso do seu corpo, toda essa majestosa envergadura que tanto me fascina. Para elas, suas mãos, não mais que uma pena, um equilibrar-se seguro na força dócil dos seus braços de Adônis.

Como descrever, sem tintas ou pincéis, sem a virtuose de um Botticelli, de um Rafael, o perfeito encaixe dos corpos nas ondulações sensuais de momentos únicos? A perfeição de um sorriso que parece descer diretamente dos querubins para avalizar o gosto de um momento irretocável?

Como descrever o abraço que me tira o fôlego e me devolve a vida sem parecer contraditória? Palavras restringem o que a imagem alarga. Minha cabeça afundada no seu peito e o cheiro de terra quente, o toque macio da pelagem farta, o carinho perfeito na hora exata...

Gostaria de ser pintor, mas não o sendo, gostaria de ser poeta e exaltar em odes perfeitas, versos alexandrinos, toda a exuberância que me invade quando seu corpo toca o meu...

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

SE UM PEIXE PENSASSE ELE ACREDITARIA QUE O UNIVERSO SE RESUME AO AQUARIO…

Recentemente li um artigo cujo titulo plajeio aqui. O autor conduzia o leitor a refletir como somos condicionados a padrões que nem sequer questionamos se são certos ou errados, nos acomodamos a segui-los porque outros, antes de nós, já seguiram e aparentemente deu certo. Ao final, o autor pergunta: E vc, autor, já pensou se vive dentro de um aquário pensando que vive no oceano?

O título, muito mais que o texto, me fez ficar pensativa. Será que vivo num aquário pensando que navego no oceano? Para o cumulo da coincidência – será que coincidências existem? – hoje, um grande amigo postou uma foto onde um peixinho dourado pulava de um pequeno aquário para um maior e, abaixo da foto, a legenda dizia: pode até não dar certo, mas se não tentar, como saber?

O oceano das nossas emoções vive constantemente cerceado, preso pelas paredes das convenções, o aquário das regras sociais onde navegamos em círculos concêntricos de desejos sufocados.

Há anos atrás abandonei um emprego estável: salário razoável, plano de saúde, ticket alimentação, etc e tal. Fui taxada de louca, irresponsável e tudo que se diz nesses momentos. Nunca me arrependi. Sou muito feliz sendo minha própria chefa, fazendo meu horário, determinando meu ritmo de trabalho, embora tenha que manter minhas contas na ponta do lápis e trabalhar muito e seriamente.

Tudo isso me leva a outra reflexão: Porque temos tanto medo de ser feliz? Porque pensamos que existe uma regra para ser feliz, que temos que caber em determinados parâmetros que as pessoas dizem ser o certo? O que é o certo quando se trata de ser feliz? Gente não é receita de bolo, não existe um manual para a vida feliz que se pareça a um aquário. A felicidade está no oceano, na imensidão do infinito.

Fecho os olhos e pulo. Seus braços me pegam, seguram, impedem o naufrágio. Você me toma pela mão e, com suavidade, me ensina a nadar... Qual o tamanho do oceano?

Há um sol no fundo do oceano e esse sol aquece meu peito e lentamente vou aprendendo que amar vale a pena!