Gostaria de ter o dom da pintura para melhor expressar a
beleza que guardo registrada em minhas recordações. Palavras são palhetas
pobres para descrever sua beleza e tudo que em mim produz, como se um turbilhão
de cores me invadisse em forma de emoções
.
Ergo os olhos e contemplo sua cabeça reclinada sobre
minhas espáduas. Digno de Monet, caber-lhe-ia o nome de suave descanso ou doce
arrepio, pois é o que sinto quando seu rosto toca minha nuca com a branda
firmeza de quem sabe o quer e como conseguir.
Semicerro os olhos para apreender o espetáculo de suas
mãos que, ladeando minha cabeça, equilibram com graça o peso do seu corpo, toda
essa majestosa envergadura que tanto me fascina. Para elas, suas mãos, não mais
que uma pena, um equilibrar-se seguro na força dócil dos seus braços de Adônis.
Como descrever, sem tintas ou pincéis, sem a virtuose de
um Botticelli, de um Rafael, o perfeito encaixe dos corpos nas ondulações
sensuais de momentos únicos? A perfeição de um sorriso que parece descer
diretamente dos querubins para avalizar o gosto de um momento irretocável?
Como descrever o abraço que me tira o fôlego e me devolve
a vida sem parecer contraditória? Palavras restringem o que a imagem alarga.
Minha cabeça afundada no seu peito e o cheiro de terra quente, o toque macio da
pelagem farta, o carinho perfeito na hora exata...
Gostaria de ser pintor, mas não o sendo, gostaria de ser
poeta e exaltar em odes perfeitas, versos alexandrinos, toda a exuberância que
me invade quando seu corpo toca o meu...